O governo federal oficializou, nesta quarta-feira 12, a demissão de Neri Geller da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. A saída do ex-deputado consta no Diário Oficial da União e ocorre em meio ao processo de anulação do leilão de arroz.
Inicialmente, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, anunciou que Geller deixaria a pasta por vontade própria após o cancelamento da compra por suspeitas de irregularidades. Mais tarde, no entanto, o agora ex-secretário negou e disse não ter pedido demissão. Segundo relatou em conversa com CartaCapital, ele sequer conversou com Fávaro sobre o tema.
A exoneração publicada nesta quarta no DOU indica que a demissão ocorreu por vontade do próprio governo. O documento é assinado pelo ministro Rui Costa, da Casa Civil, e não traz a expressão ‘a pedido’, como ocorre, via de regra, quando o funcionário opta por deixar o cargo.
Geller deixa o Ministério sob uma suspeita de conflito de interesses no processo de aquisição de arroz. Na semana passada, visando conter uma eventual alta de preços ou desabastecimento do item, o governo federal promoveu a compra de 263 mil quilos do alimento em um leilão promovido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Acontece que o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, é uma indicação de Geller. Além disso, a Foco Corretora de Grãos, uma das principais corretoras do leilão, é do empresário Robson Almeida de França, que foi assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello Geller, filho do secretário.
Antes de anunciar a demissão, Fávaro compartilhou os argumentos do secretário em pronunciamento à imprensa:
“Ele fez uma ponderação de que quando o filho dele estabeleceu a sociedade com essa corretora lá de Mato Grosso, ele não era secretário de Política Agrícola e, portanto, não tinha conflito. E que essa empresa não está operando, não participou do leilão, não fez nenhuma operação, e isso é fato também.”
Há, no processo de compra do arroz, outra suspeita de irregularidade. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o leilão teve os lotes arrematados por empresas sem experiência no mercado de arroz. A principal compradora dos lotes de arroz é uma empresa com sede em Macapá, no Amapá, que trabalha no mercado de leite e laticínios.
O presidente da Conab, Edegar Pretto, repercutiu a suspeita ao anunciar a anulação do processo de compra do alimento:
“Pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que a gente possa ter garantia que vamos contratar empresa com capacidade técnica e financeira”, disse Pretto. “A decisão é anular esse leilão e proceder um novo, mais ajustado.”
Carta Capital